Quantas onças vivem na Amazônia? Pesquisa estima densidade do felino em áreas protegidas do bioma

Escrito por

Miguel Monteiro

Publicado em

22/10/25

Estudo realiza estimativa inédita da população de onças-pintadas em 22 áreas protegidas e 4 países da Amazônia 

e1b218a2a20b257aae963315187fc43c

Ao todo, 6.389 onças-pintadas foram registradas pelas armadilhas fotográficas ao longo dos anos de estudo. Crédito: Emiliano Ramalho

Quantas onças-pintadas vivem em uma floresta? E dentro de uma reserva ou parque nacional? Quantas onças habitam o bioma Amazônico? Perguntas como estas são fundamentais para avaliar o estado de conservação da espécie e elaborar planos de ação e políticas públicas que visam a sua proteção. Um artigo recém-publicado por Guilherme Alvarenga, pesquisador associado do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia do Instituto Mamirauá, em parceria com o WWF-Brasil e mais de 20 organizações parceiras, buscou responder essas questões. 

Estudo avaliou densidade de onças-pintadas em 22 áreas protegidas e 4 países da Amazônia 


Os pesquisadores utilizaram dados de armadilhas fotográficas – câmeras instaladas na floresta que fotografam a vida selvagem através de sensores – de 22 áreas protegidas do Brasil, Equador, Colômbia e Peru. As áreas protegidas contempladas neste estudo têm classificações distintas, sendo Parques Nacionais, Reservas Extrativistas, Terras Indígenas, entre outras, cobrindo habitats de terra firme e florestas alagadas de várzea e igapó.  

Ao todo, 6.389 onças-pintadas foram registradas pelas armadilhas fotográficas ao longo dos anos de estudo. Cada onça é identificada individualmente através do padrão de suas pintas, único para cada animal. 

Os dados foram analisados com um modelo de captura-recaptura espacial, levando a estimativas de densidade de onças em cada área protegida. A densidade média de onças-pintadas foi de 3,08 indivíduos a cada 100km², porém essa estimativa variou bastante entre cada região.  

Reserva no estado do Amazonas registrou a maior densidade de onças-pintadas 

51e73cf46cc3ff900f9de82a73223c9c

Reserva Mamirauá (AM) abriga um grande número de onças-pintadas na Amazônia. Crédito: Bruno Kelly

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM) registrou a maior densidade de onças dentre todas as áreas analisadas, foram 9,97 animais a cada 100km² – ou seja, quase 10 onças dentro de uma área de 100km². A Reserva Biológica de Cuieiras (AM), por outro lado, registrou a menor densidade, apenas 0,6 indivíduos por 100km².  

Essa grande diferença na densidade de onças pode ser explicada principalmente, segundo o estudo, pela produtividade primária de cada área, ou seja, a taxa de produção de matéria orgânica a partir de compostos inorgânicos do ambiente. As florestas de várzea da Reserva Mamirauá têm o solo fértil em função dos nutrientes trazidos da Cordilheira dos Andes por rios de água branca e, portanto, uma produtividade primária alta, ao passo que a Reserva Biológica de Cuieiras, localizada no Rio Negro, se encontra em uma área menos produtiva. 

A importância das áreas protegidas e Terras Indígenas para a conservação dos felinos 

Utilizando a estimativa de densidade encontrada para cada localidade do estudo, os pesquisadores fizeram um cálculo da população total de onças-pintadas considerando todas as 22 áreas protegidas, chegando a 6.389 animais. A título de comparação, somente nestas áreas, o número de onças-pintadas é maior do que a população mundial de tigres, cujas estimativas apontam não passar de pouco mais de 3.000 indivíduos na natureza. Esses resultados reforçam não somente a importância fundamental da Floresta Amazônica para a conservação a longo prazo da onça-pintada, mas também o papel crucial de Unidades de Conservação e Terras Indígenas. 

“Acho que um dos aspectos mais importantes desse estudo é reforçar o entendimento de que as áreas protegidas e as Terras Indígenas têm grande capacidade de proteger as populações de onça-pintada. Esse é um ponto que pode parecer óbvio, mas que precisa ser constantemente relembrado”, comenta Guilherme Alvarenga, primeiro autor do artigo. 

Nos últimos anos, vimos crescer a ameaça da mineração ilegal e a tramitação de projetos de lei que visam enfraquecer a autonomia dos povos tradicionais e a proteção irrestrita dos nossos parques. Diante desse cenário, destacar a importância das áreas protegidas e Terras Indígenas se torna ainda mais essencial”, acrescenta. 

Parcerias e colaborações no estudo sobre a onça-pintada na Amazônia 

Este estudo foi publicado em parceria com o WWF-Brasil, Wildlife Conservation Research Unit da Universidade de Oxford, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do ICMBio, IBAMA, INPA, Panthera, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal de Roraima, IPAM, RedeFauna, Museu Nacional do Rio de Janeiro, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Universidade de Princeton e Zoológico de San Diego.  

“A colaboração entre instituições pode reduzir tempo de análise complexas e regionais, tão importantes. Essas parcerias auxiliam também a aumentar a capacidade de instituições em processar e analisar os dados. Em alguns casos, projetos são finalizados sem que os dados tenham sido triados e processados, assim uma outra instituição com a capacidade fortalecida naquele momento pode apoiar esse processo, como em alguns dos casos ocorridos nesse estudo. Por último, alguns estudos exigem dedicação e expertise pouco usuais a muitas instituições com boa capacidade de operação no campo e geração de dados. Nesse estudo, foi possível direcionar recursos para dedicação de um profissional que pudesse liderar as análises, o que viabilizou a participação de tantas instituições no uso dos dados, muitos deles represados”, avalia Marcelo Oliveira, especialista em programas do WWF-Brasil.

O Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia do Instituto Mamirauá atua há mais de 20 anos com pesquisas relacionadas à onça-pintada, sendo o projeto mais antigo dedicado à pesquisa com esta espécie na região amazônica. 

Texto: Miguel Monteiro

Últimas notícias

II Conferência da Juventude dos Manguezais Amazônicos reúne jovens lideranças em defesa da conservação ambiental

Com parceria do Instituto Mamirauá, evento destacou a importância dos manguezais para as populações tradicionais e a…

Autor desconhecido
22 de outubro de 2025

Autor desconhecido
22 de outubro de 2025

Instituto Mamirauá abre novas inscrições para bolsas de pesquisa na Amazônia

Estão abertas as inscrições para bolsas de pesquisa do Instituto Mamirauá. A Chamada Pública nº 02/2019, realizada…

Júlia de Freitas
22 de outubro de 2025

Bolsista de iniciação científica do Instituto Mamirauá recebe prêmio nacional de arqueologia

A jovem pesquisadora Cristiane Nayara Jati Colares, bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)…

Autor desconhecido
22 de outubro de 2025

12º Encontro de Parteiras acontece em Tefé, no Amazonas

22 de outubro de 2025

Quantas onças vivem na Amazônia? Pesquisa estima densidade do felino em áreas protegidas do bioma

22 de outubro de 2025

Pesquisadores do Instituto Mamirauá investigam urnas funerárias encontradas por família em Alvarães (AM)

22 de outubro de 2025

Instituto Mamirauá realiza a 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em Tefé (AM)

20 de outubro de 2025

Comercialização de 8 toneladas de pirarucu marca a 21ª Feira do Pirarucu de Manejo Sustentável de Tefé, no Amazonas

14 de outubro de 2025

Últimas notícias

Instituto Mamirauá apresenta experiência de conservação participativa no Congresso Mundial da IUCN

O Instituto Mamirauá esteve em Abu Dhabi, Capital dos Emirados Árabes Unidos, representado pelo pesquisador Helder Lima…

Autor desconhecido
13 de outubro de 2025

Autor desconhecido
13 de outubro de 2025

Instituto Mamirauá apresenta experiência de conservação participativa no Congresso Mundial da IUCN

O Instituto Mamirauá esteve em Abu Dhabi, Capital dos Emirados Árabes Unidos, representado pelo pesquisador Helder Lima…

Autor desconhecido
13 de outubro de 2025

Instituto Mamirauá apresenta experiência de conservação participativa no Congresso Mundial da IUCN

O Instituto Mamirauá esteve em Abu Dhabi, Capital dos Emirados Árabes Unidos, representado pelo pesquisador Helder Lima…

Autor desconhecido
13 de outubro de 2025

Instituto Mamirauá apresenta experiência de conservação participativa no Congresso Mundial da IUCN

13 de outubro de 2025

Tefé recebe neste final de semana a 21ª Feira do Pirarucu de Manejo Sustentável

7 de outubro de 2025

Captura científica de botos-vermelhos busca compreender ecologia e saúde da espécie na Amazônia Central

3 de outubro de 2025

Projeto Entre Águas Amazônicas realiza 1ª oficina com produtores familiares na Ilha do Tarará, no Médio Solimões

3 de outubro de 2025

Feiras de pirarucu manejado movimentam Bauana, Alvarães e Tefé, no Amazonas

3 de outubro de 2025